por Silvio T Corrêa
“Um médico não tem direito de terminar uma refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um aflito lhe bate a porta. O que não acode por estar com visitas, por ter trabalhado muito e achar-se fatigado, ou por ser alta noite, mau o caminho ou o tempo, ficar longe ou no morro o que, sobretudo , pede um carro a quem não tem com que pagar a receita, ou diz a quem chora à porta que procure outro, esse não é médico, é negociante de medicina, que trabalha para recolher capital e juros dos gastos da formatura.” (Bezerra de Menezes)
Bezerra de Menezes, chamado de “médico dos pobres”, é bem claro na definição do profissional médico, como vemos acima.
Claro, a grande maioria de nós não tem a luminosidade do Dr. Bezerra, mas precisamos, ainda assim, pesar e avaliar os nossos comportamentos enquanto profissionais.
Não trato aqui de uma reflexão generalizada. Antes; uma autorreflexão do que uma avaliação de juízo de qualquer pessoa ou profissional em particular.
Vejam os professores – e sei, porque convivo com uma há 25 anos: A dedicação que muitos desses profissionais tem aos seus alunos, a despeito da maioria pouco se importar com “o que” ensina e “a quem” está ensinando, é digna de aplausos calorosos por todos nós.
Durante muito tempo fui adepto convicto do amor entre as pessoas, do triunfo do bem sobre o mal e etc. O emocional sempre falou muito dentro de mim. Porém, de tanto azucrinarem meus ouvidos e encherem a minha “mochila”, acabei acreditando, durante um tempo, que eu estava errado e seria necessário ter uma visão mais racional, pé no chão. Claro: estrepei-me completamente ao ir contra o meu sentimento natural. Falta de personalidade? Alguns podem chamar assim, mas eu chamo de aprendizado.
Assim, durante algum tempo, mais ou menos recente, sucumbi às pressões de colegas, amigos e demais, quanto aos meus posicionamentos. E isso faz a diferença quando vejo profissionais que: ganhando mal; trabalhando muito; sendo “depenados” por chefes e pajés; deixando, muitas vezes, a família em segundo plano; pondo suas prioridades pessoais ao lado, para executar o seu trabalho ou auxiliar o próximo; não se abatem e nem se dobram às pressões de quem quer que seja e seguem em frente nas suas certezas inabaláveis.
Não me refiro, somente, aos Gandhis, Madres Terezas e Zildas Arns que existem e não conhecemos, mas também e principalmente, aos médicos, professores, enfermeiros, engenheiros, analistas, serventes, faxineiros, copeiros, cozinheiros, garçons e tantos profissionais que fazem da sua profissão, do seu ofício, um sacerdócio em prol dos que dela se beneficiam.
São essas pessoas que, hoje, tento me espelhar para aprender um pouco a não ser um negociante da profissão. A elas, dedico o meu total respeito, admiração e agradecimento por existirem.