A escuridão era total. E o cheiro?
Romeu e Julieta precisaram acionar a visão por infra-vermelho. Eles também foram deixando marcas na parede da entrada do labirinto, para que não se perdessem.
O cheiro, cada vez mais forte, indicava que estavam próximos. Aceleraram a marcha.
Var e Jeira, acostumadas com odores fortes, não se incomodaram, mas Romeu e Julieta precisaram acionar o dispositivo contra gases tóxicos, pois, apesar de humanoides, seu organismo era perfeito e delicado.
Uma grande surpresa esperava por eles, quando chegassem ao labirinto.
Tudo na vida está sempre em evolução e no labirinto não era diferente.
A movimentação era grande. Ratos e homenzinhos andavam apressados de um lado a outro.
Uma enorme construção – enorme para um labirinto – era o ponto de entrada e saída dos moradores.
Havia vários onibusinhos, onde criancinhas e professorinhas faziam uma excursãozinha àquela construção.
Os nossos heróis aproximaram-se e puderam ver uma placa colocada acima da entrada: "Fábrica de Queijos Labirinto".
Ficaram pasmados! Não podiam imaginar que o labirinto estivesse tão desenvolvido!
Var, Jeira, Romeu e Julieta colocaram disfarces para se juntarem àquela comunidade. (Perguntei como fizeram isso, mas não contaram, pois era segredo profissional.)
Quando eram interpelados, diziam vir de uma pequena comunidade no sudoeste do labirinto. Como era um labirinto e ninguém fazia ideia onde ficava o norte, muito menos o sudoeste, aceitavam a explicação.
Nossos detetives começaram a procurar por algum sinal de goiabada.
Encontraram objetos como tênis e roupa de corrida, já corroídos pelo tempo. Avistaram muitos dizeres nas paredes e reconheceram alguns, mas havia muitos outros que eram impublicáveis.
Viram diversas turmas de homenzinhos e mulherzinhas fazendo faxina nos becos, tentando tirar o cheiro de queijo podre, que parecia entranhado nas paredes.
Repentinamente, perceberam uma fila de formigas que caminhavam sorrateiramente pelos cantos.
“Finalmente algum indício de doce, ainda que formiga também goste de queijo” ? disse Romeu.
Concordaram que não seria uma boa hora para interrogarem as formigas. Apenas as seguiram.
A longa caminhada os levou a um grande formigueiro, que ficava no posto E4.
Aproximaram-se por trás do formigueiro e com uma espécie de estetoscópio passaram a ouvir a conversa.
– Parece ser uma assembleia de formigas, disse Julieta.
– O que elas estão dizendo?, perguntou Romeu.
– Calma, o barulho está muito grande!
– Quantas formigas têm?, perguntou Jeira.
– Pelo barulho que fazem, parece que as formigas do mundo todo estão aqui.
Espere! A balburdia cessou. Uma única formiga está falando. Parece ser a líder.
– O que está dizendo?
– Romeu, se você ficar me perguntando eu não consigo ouvir. Dá pra calar a boca?
– Ok! Ok!
"Formigas, companheiras trabalhadoras! Nosso plano começa a surtir resultados!", ia traduzindo Julieta.
"O mercado está cansado de comer apenas queijo. Algum acompanhamento, segundo as pesquisas encomendadas, mostra-se cada vez mais necessário. Ninguém deseja mais comer queijo puro."
– Tem razão! Ela está correta! ? Diz Jar, que estava calada até o momento.
– Psiu! ? "Em breve será possível apresentarmos uma proposta de parceria com a Fábrica de Queijos. Necessitamos de um estoque grande de goiabada, marmelada e bananada."
– O plano é audacioso ? comentou Var, com Jeira.
"Não se esqueçam companheiras! Essa é a primeira fase do nosso planejamento de atingir nichos de mercado. Após os doces, virão os vinhos, que serão companheiros inseparáveis do queijo."
A assembleia estava encerrada.
Bom, diziam nossos quatro protagonistas, já sabemos "quem" pegou a goiabada e "por que", mas ainda não descobrimos "como" fizeram isso nem "onde" fica o estoque. Ainda temos muito trabalho pela frente.
Além disso, dizia Var, não sabemos quem mexeu no queijo.
Os quatro foram para a Fábrica de Queijos.
Esse é um trecho do livro “Quem Comeu Minha Goiabada”
Qualquer reprodução precisará da autorização expressa do autor.
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