Seu Urbano

Seu Urbano — chileno, dizem alguns; equatoriano, outros; mexicanos, outros mais —, que mora e trabalha no Rio de Janeiro, também é conhecido pelo cognome de Urbanito.

Urbanito é camelô profissional e até tentou fazer umas palestras, à “céu aberto”, mas não teve muita sorte. Sempre foi batalhador e, digamos assim, um estudioso e inovador na sua profissão.

Sempre antenado com os produtos que davam mais retorno, Urbanito conhecia todos os sacoleiros da cidade maravilhosa. Seus produtos sempre foram tops. Os demais camelôs seguiam a moda que Urbanito ditava.

Ultimamente, entretanto, Urbanito tem se apresentado como Urbano.com. Ora, questionei-o.

— Que notícia é essa Urbano? Cadê as novidades?

— Ora meu amigo, temos que inovar. Agora eu vendo tickets.

— Tickets? Deixa de brincadeira!

— É sério. Esse aqui, por exemplo, lhe dá direito a dois pastéis e um caldo de cana, com 62,58% de desconto. Claro, desde que eu venda 325 tickets desses, se não o japonês tem prejuízo.

— Que japonês, rapaz?

— O da pastelaria ali. Agora estou no ramo de compra coletiva.

— Mas Urbano, não cabem 325 pessoas naquela pastelaria.

— Ah! Isso não é problema meu. Quem quiser que reclame com o pasteleiro, com o japonês, com quem quiser. Amanhã, bem cedinho, estarei na Barra da Tijuca. Vai ter ticket até de motel. Eu só não sei como o pessoal vai fazer. Depois de amanhã estarei na Praça Saens Peña, na Tijuca.

Àquela altura, já perto das 10h da manhã, o papo não pode continuar, pois começava a juntar gente pra comprar o ticket do pastel na barraca de compras coletivas do Urbano, que ao lado, mantinha um cartaz onde se lia: “DELIVERI. Entregamos no seu trampo, em casa ou em qualquer lugar!”

Enquanto vendia os tickets, os celulares — deviam ter uns cinco —, na mochila do sujeito, não paravam de tocar. E o empurra-empurra já começava na barraca, enquanto uns garotos saiam pra entregar os tickets.

Por volta das 12h30min, Urbanito já tinha vendido uma quantidade próxima a 500 tickets, segundo o próprio.

Mas vejam que coisa interessante a atividade do Urbano. Gerou outras atividades.

Na fila que já ia da Rua da Carioca, onde está a pastelaria, até o Shopping Avenida Central, no meio do Largo da Carioca, tinham clientes com tickets, pessoas vendendo o lugar na fila — mas tinha que ter o ticket — e cambista vendendo o ticket com ágio de 100%, que continuava sendo um ótimo negócio para quem não queria enfrentar o tumulto na barraca do Urbano.

Eu sei dizer que às 3h da tarde a espera para ser atendido na pastelaria, era de 4h. Ia ter muita gente comendo pastel e tomando caldo de cana no busão lotado.

O Urbano? Desde às 14hs que ele já tinha ido embora. Mas está por aí, em algum lugar, com a sua barraca de compra coletiva.

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