Que danado de mecanismo é esse que nos causa frustrações? Será aquela história de “Pai, Adulto e Criança” da Análise Transacional? Será que nossos pais pegaram aquela época onde não se falava “não” para os filhos infantes e imberbes? Ou será por um motivo qualquer, como adentrar num recinto ao invés de, simplesmente, entrar? Qual será? O que será?
Napoleão Pataca aposta que esse negócio de frustração tem um fundo sexual. Eu não acredito muito, ainda que reconheça que o assunto pode contribuir.
Ficamos frustrados porque compramos um carro, zerado, top de linha e quando chegamos em casa… o danado do vizinho comprou um com dois faróis de milha. Ô frustração! Ô raiva!
“Todos ganham na loteria, menos eu! Também, não encontro nem tempo para ir jogar, para fazer uma fezinha. Desgraça de vida!”
“Ô cara sortudo! Conseguiu o emprego que eu sempre pedi a Deus.”
“Hoje tenho que ir ao velório dar uma força para um amigo; tenho que telefonar para outro que perdeu o emprego; vou enviar um e-mail para o sujeito que está com um parente doente. Eu preciso ajudar as pessoas!”
“Fulano ganhou um carro no sorteio; Cicrano casou com uma mulher linda; Beltrano foi no cruzeiro do Roberto Carlos; minha colega de trabalho comprou um carro novo. Eu, dar parabéns para esse pessoal? Eles já estão muito bem, não precisam de parabéns.”
Todos nós poderíamos encher folhas e folhas com frustrações. Sejam nossas ou de outros. Mas o que estamos fazendo para sermos menos frustrados?
Você não é? Que bom! Assim que puder, conta pra gente como você faz.
Será que procuramos entender que o sujeito ralou feito um condenado para conseguir aquele emprego melhor? Mesmo que não tenhamos simpatia, poderíamos tentar a empatia para arriscar entender o outro e, principalmente, nos entender.
A verdade é que a frustração é o caminho mais curto para vazarmos os nossos erros — Ah! Você também não erra? — e as nossas culpas. É muito melhor apontar o dedo indicador do que o dedão que me indica. Claro, a “desculpa” é irmã da “frustração”; irmãs siamesas; “unha e carne”.
Todos nós, uma vez ou outra, nos frustramos. Faz parte do ser humano. O problema é o que fazemos com esse sentimento. Podemos alimentá-lo ou aprender com ele. Alimentá-lo é mole, mas como podemos aprender algo?
O primo do Napoleão, terapeuta, numa conversa de botequim — dessas conversas do tipo papo-cabeça —, entre uma cerveja e outra, nos conta que basta prestarmos atenção em nós e assumirmos a nossa culpa. Nossas frustrações têm seus germes em nós.