“Três tigres tristes pra três pratos de trigo. Três pratos de trigo pra três tristes tigres.”; “O rato roeu a roupa do Rei de Roma”.
“SI – FU – XI – PA”; “SI – FU – XI – PA”; “SI – FU – XI – PA”; “SI – FU – XI – PA”; “BRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRRR”
E Miguel Aurélio seguia com seu treinamento da voz e relaxamentos necessários, ainda que faltasse um pouco mais de 30 minutos para começar a sua sessão de contar histórias.
Pera aí! Estou contando o depois. Parece aqueles filmes que dizem: “Três anos atrás…”, após ter contado a parte principal.
Então, vamos começar!
Era uma vez um rapaz… melhor, um adulto jovem que queria contar histórias.
Nossa! Como Miguel era esforçado para atingir o seu objetivo. Sua primeira tentativa foi em uma reunião de família.
Miguel Aurélio passou a semana inteira ensaiando e decorando a história que iria contar. Era a história de Dick Cooke, um pirata do Mar do Norte, que torna-se pirata ao ser transportado, inconsciente, para uma praia desse desconhecido Mar do Norte.
Miguel colocou tanto detalhe na história, que nem bem tinha começado e deu um “branco” no seu cérebro contador. Sem saber o que fazer, começou a contar uma “salada” de Pedro Malazarte, João e Maria, Pedro e o Lobo, e O Pequeno Polegar.
Até hoje ele jura que o pessoal gostou, mesmo que tenham ficado algumas dúvidas — lacunas, brechas — na história contada.
Eu sei que daquele dia pra frente, Miguel Aurélio nunca conseguiu contar uma história planejada, ensaiada. Sempre dava o “branco”. Tornou-se um contador de histórias frustrado. Sentia-se fracassado.
Parou de se apresentar publicamente e seguiu outra carreira. Foi ser vendedor.
Foi um excelente vendedor. Atingia metas fabulosas. Contava histórias para seus clientes como ninguém. — Opa! Contava histórias? Como?
Contava histórias reais, imaginárias, misturadas, suas, de outros, não importava muito. Estava no seu “destino” a arte de contar histórias. Seus clientes ficavam embevecidos com Miguel e acabavam dando a ele a preferência na compra dos produtos.
Um dia, um desses clientes pediu a Miguel que fosse ao aniversário do filho, para contar uma de suas histórias. Aceitou, mas a contragosto. Era um cliente…
O problema é que seria no fim de semana seguinte. Faltavam dois dias e não havia tempo para ensaiar.
A história de Dick Cooke veio das profundezas da sua “mala” mental de contador de histórias. Contudo, por mais que tentasse, não conseguia lembrar-se de toda a história. Além disso, não teria tempo para decorá-la.
Resolveu tomar-se a encarnação de Dick Cooke; apropriar-se da história — como lhe disse, uma vez, uma professora.
Escreveu a história, reescreveu-a, tornou a escrevê-la, repetidamente, até que ela tomasse conta do seu coração, até que ela fosse a sua história.
Miguel não teve mais o “branco”, pois não existia mais branco para ter. Ele estava contando a própria história.
Miguel tornou-se um grande Contador de Histórias
Miguel continuava fazendo os exercício quando avisaram que faltavam cinco minutos para entrar no palco.
5… 4… 3… 2… 1…
“Era uma vez um marinheiro muito corajoso, chamado Dick Cooke…”