Quarenta anos.

Estava muito tranquilo, passando um final de semana no Rio, matando as saudades e passeando pela orla de Copacabana. Já era final da tarde quando escutei: “Tadeu! Tadeu! Ô Tadeu!”

Estranhei me chamarem por Tadeu — para quem não sabe, Tadeu é o “T” do meu nome —, pois poucos me chamam assim. Quando olhei, não reconheci a pessoa, mas também não era totalmente estranha. “Sou eu… Neguinho… da Nuno Lisboa!”

Neguinho não é negro, mas o apelido pegou e, definitivamente, ficou. Deveria ter, também, o apelido de elefante, pois pra me reconhecer após quarenta anos, só tendo a memória desse paquiderme.

Fomos sentar pra tomar um chope. Aliás, não tem nada melhor do que sentar num bar, na orla do Rio, no fim da tarde, pra tomar um chope e com colarinho alto.

Foram muitas lembranças da época da faculdade de engenharia. Fizemos o projeto final — àquela época ainda não existia o TCC — e nos formamos no mesmo período.

Neguinho, que na época de faculdade já trabalhava no IBGE, se aposentou por lá e a conversa caminhou para a área profissional. Como sempre, tive que desfiar o rosário de como cheguei a escritor. Ainda não gravei, mas é como ligar um botão interno, que repete a mesma explicação.

Como sempre vem a pergunta: “Está ganhando dinheiro?”

Eu, na gozação, respondi: “Uns ‘oito contos’ por mês, de direitos autorais.”

       — R$8.000,00 por mês?

       — Não! R$8,00!

       — E como você faz para sobreviver?

Bem, quando a conversa chega nessa etapa, e invariavelmente chega, eu invento umas historinhas para satisfazer o cliente. É mais fácil, sem grandes explicações.

Mas a verdade é que depois que a conversa acaba e fico só, conversando com meu cordão, a ficha cai e quando acontece, remexe tudo por dentro. Mas é uma remexida boa. Não existem lamentações, pois já foram descarregadas em algum texto que se não publiquei, escorregou para a lata do lixo e foi triturado pelo sistema operacional.

Meu irmão diz que o importante é ter um objetivo e é engraçado como a maioria dos escritores tem. O meu, agora, além dos meus livros, é fazer o curso de dramaturgia e continuar o curso de contação de histórias. Acho que quem abraça o ofício de escritor nunca deixa de ter objetivos.

Um amigo ator, André Orbacam, acha que eu quero ser dramaturgo e quando eu digo que quero fazer o curso pois acho que o escritor, e qualquer profissional, tem que procurar conhecer o que existe de possibilidades na sua área e buscar deixar as portas, se não abertas, ao menos destrancadas, ele não acredita; acha que quero mais. Posso até vir a ser dramaturgo, mas meu objetivo é conhecer bem a arte da dramaturgia.

Quando falo desse ofício, eu me empolgo. Me empolgo muito. Deixo o pensamento fluir. E nessa hora me surgem tantas ideias, que vou escrevendo no meu caderninho, onde já aconteceu de preencher umas três páginas A5 em um único “pensamento”. Desculpe pessoal.

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