Já sei! Você está cansada dessa vida de escritor, não é mesmo? Ah, não está não? Que bom pra você, pois eu estou, ou melhor, estava ficando quando comecei a escrever as regras para ser um escritor.
Está preparado ou preparada? Então, vamos nós.
Vamos começar pelo sentimento de culpa. É aquele sentimento dos que não conseguem colocar um dinheirinho no cofrinho da família. Pois é: esta droga de sentimento é uma bosta.
A gente tenta ser de alguma utilidade em casa para suprir esta porcaria de vazio e fica aporrinhado porque assim não consegue escrever — afinal, queremos ser escritor. O pior é que quando alguém faz o seu servicinho de “cala consciência”. Aí é que ferrou mesmo! Aumenta o sentimento de culpa e você continua sem conseguir sentar para escrever.
Ah! Mas eu achei uma solução:
Esqueça esse sentimento nefasto. Todo mundo saiu para trabalhar e você está em casa sozinho, com a pia cheia de louça, os móveis com poeira e o quintal cheio de cocô de cachorro? Esqueça tudo! Feche os olhos, tampe os ouvidos e finja que é uma bruxa e diga “alakazan”.
Tranque-se no seu local de trabalho — a essa altura qualquer local serve —, que certamente é dentro da sua casa. Esqueça-se de tudo. Deixe o mundo desabar.
Viu como foi fácil! É tudo uma questão de querer. Ainda não sei se considero uma lição. Ah! Vá lá! Fica sendo a primeira lição.
O quê? Estou ouvindo você dizer que é solteira e mora em um apartamento? Então tá. Pra você essa lição não vale, mas poderá valer um dia.
Demos o primeiro passo para ser um escritor. Acontece que são 14h e desde as 7h você não come nada. Seu estômago parece que está dormindo de tanto roncar e o barulho “quebra” o seu raciocínio ao escrever.
Bem, se você tem um micro-ondas e um freezer, com comida congelada, no local de trabalho, ótimo. Contudo, acredito que não tenha, ou não estaria lendo esse texto. Então, só tem um jeito: descer e encarar aquela louça na pia — lembra? —, sem olhar para a poeira dos móveis e fechar correndo a porta da cozinha para não ver a sujeira dos cachorros.
Ih! Lembrou que não tem freezer. A solução é se virar com um miojinho. Depois eu passo umas receitas boas.
Está feliz com a barriga cheia né? Isso é bom! Olha, não vou me preocupar com esse negócio de lição. Se achar bom, ótimo; se não achar, dispense.
Agora você está escaldado e não cairá mais nessa. Um pequeno estoque de biscoitos doces e salgados, uma garrafa térmica com café e mais uma ou outra coisa, devem acabar com o problema. É verdade que você pode engordar tanto que será escritora de dietas, mas é só um detalhe.
Se tem freezer e micro-ondas, passe um final de semana sem escrever, faça um monte de comidas e pronto.
Passou o dia inteiro preso no local de trabalho. Que beleza! Certamente já ouviu dizer que o médico tem que viver para profissão, pois pode ser chamado a qualquer hora do dia (ou da noite). O escritor também, pois a caneta — teclado? — poderá chamá-lo a qualquer hora e ele não poderá dizer que não está em casa. Então alegre-se, pois está fazendo o seu trabalho.
Viu como as coisas estão clareando. O quê? Você queria dicas de como ser uma boa escritora? Ah, isso eu não sei dizer, mas se serve como consolo, a gigantesca maioria não sabe e só tem um jeito de descobrir. Escrevendo… e lendo, lendo muito, sem parar de escrever.
Viu, apareceu mais uma coisa! Esse negócio que escritor tem que ler muito. Se não consegue tempo para se dedicar a escrita, como conseguir tempo para ler?
Se pensar bem, existe um local na sua casa, com assento, e que normalmente você vai todos os dias. Utilize-o para ler uns bons livros.
Ah, não! Não vou ficar me preocupando se você é solteira ou casado. Já tem gente que vai reclamar por eu estar variando o “gênero”, tentando agradar escritores e escritoras.
Ir para bibliotecas públicas ou de universidades, pode ser uma boa coisa, pois você ficará longe de tudo que lhe é familiar. Poderá levar seu notebook ou sua “máquina de escrever” ou então, papel e lápis. Quando chegar em casa, é só passar tudo para o computador. Essa foi ruim, né? Também achei. Vou deixar, pois poderá — quem sabe? — ser útil para alguém.
Eu acho que já dei algumas “boas” dicas. Para mim foram úteis e espero que também sejam para vocês.
Bons textos!