— Estou, sim, apaixonada!
— Pois então diga a ele de sua paixão.
— Ele não entenderá, pois é uma paixão diferente. Uma paixão de mãe para filho. Uma paixão fraternal. Algo que nem sei explicar. Você consegue entender?
— Claro que sim! Quer dizer, não sei. Já senti isso. Acho que muitos já sentiram. Não, não sei dizer. Deixe-me pensar.
— É um estar apaixonado diferente. É como um amor muito antigo e não é um amor da carne: é do espírito, do coração, do sentimento quase puro de amar por amar. Se não é idêntico, é muito parecido ao amor por um filho, por uma filha. E é totalmente diferente da conotação de paixão que encontramos por aí.
— Sentimos, nos alegramos, torcemos e vibramos, mas tudo silenciosamente, seguindo Platão. E não há qualquer sofrimento.
— Desculpe, há sim! Existe o sofrimento do erro maldoso, da interpretação maldosa, do julgamento errado, mas que acaba se desfazendo em nosso íntimo, como acontece com uma filha ou um filho.
— É, acho que já senti isso. É diferente do amor que tenho pela mulher que amo ou de uma mulher pelo homem que ama. Ainda temos tanto para aprender, que quando a vida nos apresenta a uma emoção diferente, parece que nos perdemos e julgamos mal; chegando a autocondenação por termos esse sentimento. Ora, esse sentimento é nobre e quem dera pudéssemos ter por todos, mas não é o que acontece.
— É como um destino! Sim, como se estivesse escrito que você se apaixonará por fulano, sicrano ou beltrano e assim: sem qualquer motivo aparente, com exceção da possibilidade de uma história de amizade que transcenda o nosso tempo.
— Mas paixão pode nos levar a enganos. Basta que estejamos fragilizados para confundirmos essa paixão, esse amor fraternal, por um amor integral como o de um homem por uma mulher, pois chegará um momento em que descobriremos o nosso erro, quando as feridas, em todos e por todas as partes, serão grandes demais.
— Coisa complicada é o amor, a paixão. E deveria ser simples, ser o primeiro assunto a dominarmos sobre a natureza humana. Não, não diga que é simples porque não é.
— Já é antigo o dito de que o “Amor não se Define, apenas o Sentimos.” Por isso é complicado e tão mal interpretado.
— Mas se nos torna a Vida Insuportável, também a faz Maravilhosa.