Quase uma latinha.

Tarde quente, pelando, fervendo. O sol não deu descanso o dia inteiro.

“Ah! Vou pra casa tomar um banho e ficar tranquilo.” — disse para mim.

Cheguei e não tinha ninguém. Tomei um banho, coloquei uma bermuda, peguei uma cerveja que estava suando de tão gelada e sentei na espreguiçadeira. Abri a latinha e comecei a tomar vagarosamente, saboreando, como merecia a situação.

Peguei um livro para ler enquanto bebia minha cerveja que já estava no final. Já, já, eu pegaria outra.

Um estrondo, defronte a minha casa, me tirou do êxtase da situação. Larguei tudo e sai disparado em direção ao portão. Um carro bateu em um poste mal colocado. O motorista, pendurado pelo cinto, despencava por causa da porta que se abriu com a batida. Juntou muita gente, mas todos ficavam olhando sem qualquer atitude. O motorista, ainda preso pelo cinto, gemia.

Corri para pegar o carro e levar o motorista ao hospital — não parecia uma situação em que eu não pudesse levar o rapaz.

Quando liguei o carro, eu lembrei: “Opa! Bebi cerveja!”

A emergência chorou mais alto! Colocaram o rapaz no banco do carona e àquela altura eu não queria saber se era a posição correta, pois minha urgência era chegar ao Pronto Socorro.

Finalmente chegamos e o rapaz foi prontamente atendido. Segundo o médico, não haverá qualquer sequela, graças a rapidez no atendimento.

Bem, tudo resolvido, depoimentos prestados e fui liberado.

Voltando para a casa, uma blitz:

— Senhor, é preciso soprar nesse aparelho.

— Mas eu já lhe contei o que aconteceu. Vamos ao hospital que o médico confirmará.

— Tudo bem senhor! Mas precisa soprar nesse aparelho.

— Mas eu tomei só “quase” uma latinha e já tem muito tempo.

Soprei, e claro, deu acima da incrível marca de 0,05 mg/l (miligrama por litro de ar), que dizem ser o equivalente a “meio”, ½, metade de um copo de cerveja.

—— X ——

Este texto acima é um conto. Mas sim, sou contra a essa lei do jeito que está, com os limites que está. Não sou contra a multa pesada, a perda da carteira e a prisão, quando aplicada corretamente e com parâmetros, limites, racionais.

Já vi autoridade dizendo que se o remédio promoverá uma medida acima de 0,05mg/l, que se pare de tomar o remédio.

Quem já perdeu um ente querido por causa de um motorista safado e embriagado, será contra esse meu conto. Contudo, esse motorista irresponsável, deveria acusar no bafômetro um índice muito acima do 0,1 ou 0,2mg/l.

Por que não é proibida a fabricação e a venda de bebidas alcoólicas? Essa seria uma saída?

Por que não é limitada velocidade dos automóveis a 80km/h? Essa seria uma saída?

Claro que nenhuma das duas seria uma boa saída, pois deixaria de gerar impostos para o erário público, incluiria mais um item para o contrabando e o tráfico e ninguém compraria carros possantes, caros e/ou importados.

Então, meus caros, só me resta protestar. Não para que acabem com a lei, mas que a coloquem com parâmetros aceitáveis para os cidadãos de bem e responsáveis.

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