Pobre que é pobre…

Rapaz, o negócio é sempre complicado pro pobre.

Vejam só que José Antonio chegou ao final do mês sem um tostão no bolso. Sem um mísero tostão! Nem pro pãozinho francês ele tinha!

Ah! Mas sabe como é que é. Pobre que é pobre não se aperta. Xinga, chuta e grita, mas acaba achando uma solução. E Zé Antonio lembrou de uma receita de pão.

Se ele sabia fazer? Claro que não! E isso não era problema pro Zé. Moço tarimbado na escola da vida, podia perfeitamente dar um jeito pra fazer um “simples” pãozinho.

E dá-lhe de procurar a bendita receita. Tira caixa de cima do armário, abre saco de lixo com cartas e fotos antigas, olha embaixo do sofá e… nada. Nada de receita!

— Será que o Pedro tem alguma receita de pão?

— Pedro! Ô Pedrão! Chega aí.

— Fala Zé.

— Você tem alguma receita de pão.

— Que pão? Francês? Italiano? De ló? Doce? Recheado …

— Não enrola Pedro. Pão comum, desses de padaria.

— Ihhh! Vai ser difícil. Tem que ter forno…

— Tem ou não tem a receita?

— Mãe! Tem alguma receita de pão? – Lembrei! Têm sim. Fizemos no mês passado. Não é lá essas coisas, mas dá pra encher o bucho.

— Me arruma ela que eu quero fazer um pãozinho lá em casa.

— Vou fazer melhor! Vou contigo pra te ajudar e, enquanto isso, tomamos uma cerveja e colocamos a conversa em dia.

— Tudo bem. Você deu a ideia, você leva a cerveja.

Pobre é uma maravilha! Bate papo de pobre é ótimo. Não tem frescura. Sandália de dedo, bermuda, um banquinho e o papo rola solto. O pão que é bom, ainda não tinham começado a fazer. Ainda mais que o Pedro levou uns pasteizinhos que D. Jurema — mãe do Pedro — tinha acabado de fritar.

— Zé, e o pão? Não vamos fazer?

— Claro que vamos. Espera que estão tocando a campainha.

— Danilo! Há quanto tempo! O que está fazendo por aqui?

— Vim te visitar. Saudade, já viu. Sabe como é.

— Você não sabe quem está aí? O Pedrão!

— O Pedro, filho da D. Jurema?

— Danilo! Meu garoto! Como é que você está? — Foi falando o Pedrão, enquanto vinha da cozinha.

— Deixa eu ir no carro pegar umas coisas. Já volto!

— Danilo, estamos te esperando na cozinha. Vamos fazer um pão.

Não demorou e chegou o Danilo com dois embrulhos e uma sacola de compras.

Abriu a sacola e começou a tirar coisa lá de dentro. Salaminho, biscoitinhos, uma dúzia de latinhas de cerveja e a Branca da Serra, uma aguardente do tipo “export”, que a família do Danilo fabricava.

E dá-lhe de rolar o papo. Política, mulher, futebol, mulher, vida, mulher. Ah, mulheres! Todos os três beirando aos 30 anos e solteiros. O papo sobre a Selma, Tania, Francisca, Roberta e tantas, que vinham desde o tempo de garotos de 12 anos, não faltava. Resolveram rever as meninas.

Ligaram pra alguns amigos, vasculharam os caderninhos de telefones e ligaram. Duas horas depois, na casa do Zé Antonio, já estavam a Dulcineia, a Selma e o marido, a Jandira, o Val e a esposa. Todos na cozinha, relembrando os tempos antigos. Até o Beto chegou com um violão e um pandeiro.

E o pão? Ficou pro dia seguinte!

Pobre que é pobre sabe que o dia seguinte vai sempre estar lá. E os amigos também.

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