Sobre o livro Um Martíni com o Diabo

Acho que estou virando fã incondicional da autora. Se um livro é muito bom para o entretenimento, embota a minha capacidade de leitura crítica ainda que eu não seja um leitor crítico profissional. Contudo, isso também é um sinal, para mim, da excelência da obra, já que no meu entender o entretenimento é uma das principais funções de um romance.

Vamos pelo início: a autora, Cláudia Lemes, que teve um bom sucesso com Eu vejo Kate, não segue, como tornou-se moda, com o volume 1, 2 e 3. Ao contrário, ela parte para uma história diversa, em um ambiente diverso, com um cuidado esplendido na construção da história e de personagens multifacetados, densos.

Em um livro do gênero romance policial e esse, Um martíni com o diabo, em particular, se assemelha muito com um romance psicológico, a autora, com a maestria da naturalidade, usa termos politicamente incorretos perfeitamente encaixados no contexto, narra cenas picantes e cenas de ação. O fio condutor da história, esse sim, de fundo psicológico, permite aos personagens o trabalho de temas como inveja, adoração, responsabilidade, amor, machismo, poder, sem que o narrador, como em um romance de auto-ajuda, precise falar sobre o tema. Nada está fora do lugar.

A autora tem umas sacadas de criação de imagem através de texto ─ que eu raramente encontro, pois são difíceis de construir já que entendo como uma questão de timing ─, que acho excelentes. Vejam só, por exemplo: “… desviou o olhar para a árvore de Natal que piscava no canto…” É como se, ao ler, eu visse uma arvore piscando para mim, chamando minha atenção.

Um outro ponto positivo nesse romance são as quebras de direção ─ chamam de “plot twist” ─, que dão uma sensação de renovação à trama. Não é como se fosse um novo romance, mas uma injeção de gás na história, pegando o leitor que está acomodado e dando uma sacudidela.

De cabeça não me recordo a utilização de qualquer clichê, ainda que tenha visto uma ou outra “explicação” ─ chamo de “explicação” as cenas onde o autor diz, por exemplo: “a mesa era vermelha, mas não era um vermelho vivo” onde a segunda parte nada acrescenta, ou “pisei no acelerador, que é um pedal que existe no carro”. Falo sobre isso pois são coisas que usadas de modo exagerado, me incomodam muito enquanto leitor. Obs. os exemplos dados não são spoilers.

O livro toma a sua atenção e a trata com respeito e carinho, mantendo-o preso à história.

Leia! Você vai gostar.

#sobreolivro